Sentamos juntos. Ele tinha mais de sessenta, ela aparentava um pouco mais do que a minha idade. Reservados, pareceu-me que conheciam muitas pessoas no vôo, pelos cumprimentos dos que passavam para se acomodar mais atras da aeronave. Não dei importância, tentava resolver minha cruzada de letrão.
O enlaçar das mãos foi discreto e se deu tão logo a aeronave iniciou os procedimentos para decolagem. A energia da emoção que tomou conta dos dois naquela hora me impactou de tal forma, que me embeveceu. Estava concentrada caçando palavras quando a sutileza do toque iluminou meu arredor. Fiz uma prece, não sei bem porque, creio que fui levada pelo contrimento do casal ao meu lado.
Após o avião estabilizar, tão discretas como foram para atarem-se, as mãos se afastaram. O restante do vôo foi tranquilo, cochilei um pouco do cansaço.
Aterrissagem anunciada, novamente a cumplicidade das mãos se unindo. Encostei a cabeça na poltrona, fechei os olhos e ciumei aquela compreensão silenciosa e tão bela.
Desceram apartados, trocando palavras com outros do vôo, estavam em muitos, agora eu via.
Havia muito mais entre aquele casal do que a convivência de trabalho, do que a amizade que demonstravam, do que o comedido das ações... sei o que havia, não ouso transcrever...
O silêncio do olhar e a certeza da companhia de um, da presença do outro, num momento tão rápido, num segundo de medo, numa fração tão pequena de movimento, gerou uma explosão tão grande de sentimentos e certezas, um momento único, que sem querer, ao lado, presenciei, pude compartilhar.
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